Há um desenho de uma praia longa de sol, perfeita, que se rabisca aqui
Catembe, conhece?
A água branca de pedras, quieta, silenciosa e baixa; enganosa, cheia de camarões laranja gordos, cheia de búzios e conchas de uma grandeza preciosa.
Há logo ali uma aldeia de pescadores, uma aldeia pouco ligada ao mundo de muito dinheiro, de pouca gente, de casas pouco faustosas
(casas nada faustosas)
com pouco movimento, pouca acção, poucos rostos lisos e poucos rostos de pele branca
(nenhum rosto é liso, nenhum rosto é feito de pele branca)
e há uma negra a entrar na água: há uma jovem mulher negra, de peitos fartos, a chapinhar pés de vida própria que bailam a areia curvada à majestade do mar
- ela é levada pelos seus dois pés até ele.
Baila como se o mar o tivesse mandado chamar, como se ansiasse pelo seu corpo.
Ela vai consciente satisfazer-lhe o capricho: dá-lhe o corpo seu
(ancas e coxas negras fartas)
continuando incessante num ritmo corporal que se torna veloz.
Enquanto dança esquecida de si não nota que a água lhe vai chegando aos ombros: enquanto baila dentro no mar não se apercebe da fome das ondas que lhe engolem já olhos
nariz
boca
enquanto a ele se entrega
nesta loucura insana do movimento do corpo
(não repara, não vê)
que o peso da água: esse peso leve e pesado já lhe come cabelos, já lhe têm a alma.