sábado, fevereiro 27, 2010

Pitopeca



Ontem foi por ti, sabias? Foi por ti que fui à escola, precisava muito de te conhecer.
Assim que entrei e vos vi, precisei de saber quem eras tu.
Já sabia tudo sobre ti antes do meu corpo conhecer pessoalmente o teu; tinha pensado numa estratégia a ser executada assim que entrasse na tua sala e fiz com que todos os teus colegas dissessem o seu primeiro nome,

-Margarida

-João

- Tiago

até chegarmos a ti. Era a ti, Ana, era o teu corpo pequeno quem eu queria tocar.






Foi quando tu disseste
- Ana



que eu soube que tinhas chegado:alguma coisa dentro do meu corpo rebentou.






É a tua família, não és tu.
Não devia ter sido assim. Todos os corpos pequenos deviam nascer em braços seguros de bem-estar: custa-me saber que fazem isto contigo todos os dias, que basta acordares ou fazeres uma pergunta na hora errada. És uma pequena escrava de 8 anos.

Sabes, Ana, a verdade é que nem o meu livro nem eu temos qualquer significado ao pé de ti. O meu livro não é absolutamente nada ao lado da vida que tens e foi por um triz que eu não disse
- o meu livro não é nada disso, meninos, o meu livro não é




quando todos vocês souberam falar tão bem de cada linha da minha história: as personagens, o enredo, o lagarto que só tem um dente na boca, os tachos que voam, os peixes gordos do lago.
Falaram deste livro como se fosse a única história do mundo
- a Guilhermina existe mesmo?



e eu fosse a rainha de copas, numa cadeira azul, no meio de uma sala demasiado quente para o meu corpo cheio de uma febre usurpadora
- eu nunca salvei ninguém como tu: disseram-me que costumas salvar a tua mãe ou um dos teus irmãos de serem batidos; costumas fazê-lo com a coragem do teu pequeno corpo







Hoje sonhei contigo, miúda. Sonhei que tinhas gostado mesmo dos chocolates e do livro autografado. Sonhei que te lembravas de mim, do meu sorriso parvo parado em ti desde o momento em que disseste
- Ana


sonhei que tinhas vindo cá para casa morar e tinhas um quarto, uma cama, roupa de verdade, livros e cadernos novos: eu tinha-te salvo daquilo.

O mundo não é justo, Ana, aprendeste isso cedo de mais. Não era altura. Era tempo de teres barbies e poderes mostrá-las às tuas amigas quando fossem lanchar a tua casa. Devias lanchar todos os dias. Devias brincar (não passar a ferro), devias ter os óculos que precisas para aprender a ler, devias ser admirada pelos teus pares (não vítima de um bullying constante que dinamita a tua auto-estima e te vai fazer crescer insegura e desconfiada): este era o tempo de seres realmente feliz.




Volto em Abril à tua escola. Tenho o dia marcado a verde na minha agenda. Diz ANA.

sábado, fevereiro 20, 2010

Para quem viu o filme e se apaixonou pelo poema como eu...

Invictus




Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley