como uma doença que cresce nas paredes da sala de estar, os meus pêlos crescem à maneira de árvores tristes semeadas nas pernas magras à velocidade do fogo
(às vezes os pêlos pediam o corte e eu negava-me para que se desenvolvessem e eu pudesse olhar-me ao espelho e sentir-me meio homem meio mulher)
eu nua com pêlos nas pernas crescidos e seios rijos perfeitos sou uma pessoa triste meio homem meio mulher
- o que é que sentes quando pões as mãos nas minhas árvores?
Há entradas num corpo novo por descobrir. Quando me senti pronta a explorar-me deitei-me nua no sofá até os ver olharem-me em fila: as fotografias da sala
- a minha mãe, o meu pai, os meus quatro irmãos, os avós mortos, os tios em cima do móvel a olhar para mim deitada
para que não olhassem para mim, para mim agora árvore
- sou uma árvore triste com medo
cada moldura, cada retrato virado de castigo para a paisagem bonita da parede
- para que não me vissem àrvore: meio homem meio mulher
a descobrir entradas secretas no meu novo corpo nu
- eu meio homem meio mulher.
1 comentário:
Profundo... mas gostei da parte das fotografias, da maneira como setes que eles estao la a observar.
bjs e boa semana
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