domingo, agosto 06, 2006

Trinta e três

como uma doença que cresce nas paredes da sala de estar, os meus pêlos crescem à maneira de árvores tristes semeadas nas pernas magras à velocidade do fogo
(às vezes os pêlos pediam o corte e eu negava-me para que se desenvolvessem e eu pudesse olhar-me ao espelho e sentir-me meio homem meio mulher)

eu nua com pêlos nas pernas crescidos e seios rijos perfeitos sou uma pessoa triste meio homem meio mulher
- o que é que sentes quando pões as mãos nas minhas árvores?




Há entradas num corpo novo por descobrir. Quando me senti pronta a explorar-me deitei-me nua no sofá até os ver olharem-me em fila: as fotografias da sala
- a minha mãe, o meu pai, os meus quatro irmãos, os avós mortos, os tios em cima do móvel a olhar para mim deitada

para que não olhassem para mim, para mim agora árvore
- sou uma árvore triste com medo

cada moldura, cada retrato virado de castigo para a paisagem bonita da parede
- para que não me vissem àrvore: meio homem meio mulher

a descobrir entradas secretas no meu novo corpo nu
- eu meio homem meio mulher.

1 comentário:

de Matos disse...

Profundo... mas gostei da parte das fotografias, da maneira como setes que eles estao la a observar.

bjs e boa semana