quarta-feira, setembro 15, 2004

No cocaine




Perguntar - desculpa mas preciso mesmo de saber isto hoje:
é igual?Sabe ao mesmo?a parte dos beijos?

Porque te vi beijá-lo a ele, na tua casa, na tua cozinha, a beber vinho teu, e a ouvir o teu Frank ao mesmo tempo que penso que és um homem simples apaixonado por um par, que faz jantar para três numa cozinha de madeira branca arrumada.

Ele beijou-te á minha frente e eu virei a cara num acesso parvo de vergonha: devia ter ficado a olhar.
Os católicos não acreditam em amor gay: é capacidade exclusiva de cristãos
.

Beijaste-o, trocas olhares, gestos, e mostram carinho em actos.

Sabes músicas com ele, riem, partilham danças. Apercebo-me que tu também tens lugares secretos com ele, que existem coisas que só ele saberá sobre ti, e que haverão prazeres que só conhecerás com ele.
E cheira tudo a uma cumplicidade em estado liquido que eu invejo.
E parece que é tudo igual
-mas eu não sei se isso é amor, ou sei(?)
e ele deixa cair um copo, tu ris: e eu solto o riso convosco.

Ele é particularmente desajeitado, e tu, dedicado e apaixonado, baixaste na tentativa de apanhar vidros com ele. Cacos.
Riem no meio de cacos.

A imagem traz-me a sitios onde já passei e apercebo-me que é facil compreender que isto que se passou agora, aqui mesmo à minha frente, isto, esse básico apanhar de vidros que se partem, por si só, já responde ás minhas inquietações preconceituosas.

É ternura, carinho, cumplicidade, amor:
- esse fuckin´ apanhar de cacos denunciou-vos.

Use your mentality
Wake up to reality


É dificil existir só sexo no meio de vidros partidos, e tu apanhas tudo, cheio de cuidados para que ele, desajeitado e frágil, não se corte.

Dás-lhe uma dentada no braço, dizes que ele não tem jeito para nada.
Sai-te ainda uma cotovelada ternurenta, e eu colo os olhos no tecto da cozinha imagindando a existência de um elefante a sobrevoá-lo, e amordaço-me, em rapidez, para não comecar a cuspir inveja pelos dentes da frente.

each time that I´m trough
Just the thought of you
makes me stop before I begin
´cause I´ve got you under my skin

Ridicularizo-me sozinha com um copo de vinho vermelho que espero que contenha um veneno letal qualquer: que me leve deste mundo perfeito de amor e me dê entrada na eternidade dos desistentes.
Invejo-te, sorry.

É bonito ver-vos apaixonados, e a minha inveja inquieta recém nascida, levanta o indicador à minha racionalidade parca e questiona-a:
- porque é que eu, especime normal, hetero, não tenho nada disso?

E o Frank repete com trompetes e saxofones á mistura

I would sacrifice everything
For the sake of having you near
In spite of the a warning voice that cames in the night
And repeats repeats in my ear


E eu sinto-me básica e pequenina por não perceber que a pureza que o amor provoca, é igual, sempre.
E a inveja faz mal à pele.

Não havia percebido isso. Não havia percebido que o ritual não muda, que aquilo que arde
ou dá medo ou calor ou ansiedade
é exactamente o mesmo: stupid love.

Não percebi que ele é a tua Razão agora, e que hoje serias capaz de lhe jurar fidelidade ao pé do altar do Bom Deus, como um qualquer homem pode fazer diante de uma qualquer mulher, mas que por seres um homem especial, com facilidade, sabes dispensar.



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