domingo, julho 10, 2005

Keep this

A minha família



na minha família somos três, ou melhor três e meio porque a mamã está grávida e eu vou ter o meu primeiro irmão daqui a dois meses.


eu não sei o que escrever na composição que a professora mandou fazer porque é o meu pai que me ajuda nos deveres mas ele hoje foi por música a uma bar e a mamã está a fazer o jantar na cozinha e diz só poder ajudar-me cinco minutos.
a mamã escreve coisas, dá aulas e tratada de mim e da barriga dela que agora parece uma melancia.

ela conheceu o meu pai numa discoteca chamada Lux e diz que já nesse altura já sabia que ele tinha mau feitio.

ela contou-me que a parte dessa discoteca que ela preferia era o estacionamento porque foi ai que o papá a beijou pela primeira vez quando ele tinha um micra vermelho, num tempo em que a mamã usava um só brinco, mini saias muito curtas e a minha avó marcava horas para ela chegar a casa.
o meu pai diz que gostou dela assim que a viu entrar zangada no carro dele por ele ter chegado tarde.

eu acho que eles gostam muito um do outro porque na semana passada eu entrei na cozinha e eles estavam abraçados a dançar descalços sem música como se a aparelhagem estivesse ligada.
às vezes o meu pai passa pela minha mãe morde-lhe o rabo e chama-lhe amor.

aos sábados à noite o meu pai deixa-me na minha avó e só me vem buscar para irmos todos almoçar fora no domingo:
eu perguntei à minha avó porque é que eles queriam ficar sozinhos tanto tempo e ela disse-me que era para namorarem.

pergunto-me porque motivo não podemos namorar os três como fazemos aos sábados de manhã quando eu vou para a cama deles e o meu pai me morde a barriga para me fazer rir.
o papá gosta da minha avó mas ela plantou coisas no nosso quintal e o papá tem de regá-las aos sábados e diz que não tinha nada de regar as coisas que ele não planta.


no fim-de-semana veio a tia Zuleika do Algarve para nos apresentar o 26ª namorado definitivo.
a minha mãe disse que ele era giro e eu também achei mas acho que o papá é o mais giro dos 26 e a mamã disse que era normal, que eram as teorias de Freud a funcionar em mim e eu não percebi nada.


O meu quarto é cor-de-rosa e a minha mãe pintou uma lua amarela no tecto para eu ter sonhos lá na lua:
à noite a mamã vem sempre à minha cama às escuras e eu finjo sempre que durmo, e ela dá-me um beijinho puxa a roupa e diz ao ouvido que me ama mesmo achando que eu durmo.

ontem à tarde estavamos a vir da minha escola e eu perguntei-lhe se ela sabia que eu também a amava porque eu nunca tinha ido ao quarto dela puxar-lhe a roupa beijá-la e dizer-lhe ao ouvido que a amava quando ela dorme:
eu não sei se ela dorme ou finge que dorme como eu.



a minha mãe parou o carro de repente e abraçou-me.

eu assutei-me e os carros atrás do nosso apitaram e ela disse que eu podia dizer-lhe que a amava a toda a hora porque dizermos ás pessoas que as amamos faz o nosso coração ficar grande e bonito e a minha mãe diz coisas estranhas às vezes mas eu tenho medo que o meu coração seja como o chupa de morango que eu estou a comer antes do jantar sem autorização:


será que quando amamos muito alguém sobra mais alguma coisa para outra pessoa?



eu amo o João António da 5 ª classe, fiz-lhe o desenho do meu coração a vermelho e dei-lho mas ele diz que eu sou uma miúda pequena e eu senti-me tão mal que fingi desmaiar só para o ver aos meus pés preocupado.

a minha mãe foi à escola buscar-me e eu contei-lhe tudo quando ainda estava deitada no gabinete de enfermagem e ela disse-me que às vezes acontece darmos o nosso coração às pessoas erradas

(ela disse-me que todos os homens são uns cães e eu pensei que espécie de cão o papá seria)




mas que haverá um dia em que alguém vai querer o meu coração de verdade e eu vou ser tão feliz como ela é com o papá e quando ela me disse que havia mousse de chocolate para o jantar eu senti-me logo melhor para ir para casa.

Ela riu-se e disse-me ao ouvido que achava que eu ia ser uma óptima actriz daqui a 15 anos mas não sei se ela tem razão nisso porque eu sempre quis mesmo ser uma boa veterinária.

4 comentários:

Anónimo disse...

Há sempre o outro lado da moeda, essa é a historia da menina feliz.. agora podias explorar o lado da menina infeliz.


Adoro os teus textos.




beijo *Maria*

Anónimo disse...

O outro lado da história fala de alguém que escreve sobre tudo o que a rodeia porque têm uns olhos que devoram um mundo.....e as pessoas.

(se você fosse gajo eu comia-o :P)

adoro-te ....não te percas

keep being stupid :)

Sandra

a disse...

tão krido! é tão bom poderes conseguir recuperar a visão infantil do mundo, nem que seja a fingir... nem que seja por um bocadinho... eu tenho tentado mas não sai nada tão puro. parabéns

|___XyZ___| disse...

Antes demais, Obrigado pelo comment no meu blog...

Só nao comentei no ultimo post teu porque pus-me a ler e gostei mais deste texto do que qualquer outro... Para ser sincero, gostei tanto do conceito, que estou a pensar em fazer o mesmo, por isso passa por lá daqui a uns tempos e quem sabe...

Em todo o caso, fica bem!