segunda-feira, junho 19, 2006

A race for rats to die

Há um bolo de chocolate grande em cima da mesa da casa onde se construíu uma festa.
Há esta mulher encostada à porta da cozinha, a olhar o bolo desde o momento em que aqui chegou. Há esta mulher a dizer ao bolo revestido da negritude viscosa do chocolate
(a dizer com as mãos que tremem na surdina das costas)
- que ninguém me abra com essa faca, que ninguém

porque se virmos bem, a mulher encostada à porta transpira o olhar para o bolo desde o minuto em que aqui chegou
- que ninguém me faça isso, que ninguém me corte com a faca

porque se atentarmos melhor, o bolo é fisicamente parecido com ela: envernizados os dois na pele que lhes cobre a carne, ambos lânguidos nos seus lugares, ambos quietos na espera do estremecimento daquilo que se há-de fazer ali
- não me quero exposta, não me façam isso

e no fim dos parabéns, do silêncio das velas apagadas, a faca entrou no bolo e a mulher encostada à porta caíu morta na simultaneidade do acaso.

Ontem cortei as unhas a pensar em ti.

3 comentários:

de Matos disse...

lolll bem essa ultima frase, partiu-me loll
tem uma boa semana

Anónimo disse...

Lume nas mãos que me mataram.

Peter Cain disse...

A menina faz-me lembrar o filho bastardo de Gonçalo M. Tavares e António Lobo Antunes.
Texto surpreendente, e blogue único, assim cor-de-rosa pastilha elástica.