o coração a encostar-se ao esófago,
o pulmão esquerdo a acarinhar o direito,
as pestanas, uma a uma,
a cortarem as raízes da pele dos olhos por raiva.
O rim a abraçar a bílis,
o intestino grosso a aninhar-se no delgado,
as artérias a deslizarem paredes ate às veias,
cada osso a seduzir um par.
(o corpo ensimesmado a ter-se)
A gordura amarela do corpo liquefeita,
-poça de água morna na tijoleira -
o cérebro sozinho a gemer de olhos fechados,
a pele a gritar,
o testículo a chorar desgosto no gémeo,
o seio direito a pedir recolhimento ao esquerdo.
A vagina a asfixiar-se no amarelecimento das pernas pesadas,
o meio do corpo que são os pêlos.
Olhos a fechar por dentro,
a boca a coser-se por fora,
os ouvidos a mirrar presos à cabeça.
Cabelos suicidas no lavatório da casa de banho do quarto,
as unhas a sentirem frio
os dedos da mão a caírem no chão,
por si, em aniquilamento
- seríamos os dois felizes se logo à noite não voltássemos a existir.
2 comentários:
inês: gostava de ler essas 3 peças geniais...
queres enviar-mas?
acho que sim :)
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