segunda-feira, novembro 15, 2010

O homem que não gostava de poesia

O homem que não gostava de poesia sabe fazer contas de cabeça, subtrai o IVA ao preço dos produtos em menos de 3 segundos, e é do Benfica.
O homem que não gostava de poesia não dança com a mulher em cima do tapete da sala mas gosta dela com o olhar, sabe por ordem cronológica todas as vitórias de José Mourinho e gosta de viajar nas férias de Agosto para países quentes.
O homem que não gostava de poesia passa a ferro as suas camisas do trabalho, faz as compras de casa no LIDL e pensa ter dois filhos.
O homem que não gostava de poesia só chora quando não aguenta mais a dor que lhe esmaga o peito, gosta de beber cerveja com os amigos e ver a bola no café: escreve cartões de amor com dificuldade porque é com dificuldade que fala do que sente no seu coração.

O homem que não gostava de poesia vai ver os pais ao domingo e tem uma ternura especial pela sua tia de pequena estatura.
O homem que não gostava de poesia canta sempre a mesma música ao ouvido da sua mulher (com isto sabe que ela vai derreter à noite no seu corpo) e diz-lhe que a ama quando se lembra dela.
O homem que não gostava de poesia tem medo do dia em que a sua avó não esteja cá para o afagar, nunca roeu as unhas e fuma na janela do escritório.
O homem que não gostava de poesia tem ganho concursos de fotografia e sorri para dentro com as suas vitórias: o homem que não gostava de poesia é ambicioso e gosta de ganhar.
O homem que não gostava de poesia acredita que a beleza da sua mulher reside na forma como ela se despe para ele e não gosta de a ver emagrecer. O homem que não gostava de poesia nunca leu Pessoa nem Sophia nem Sá-Carneiro e desconfia que Gabriela LLansol seja uma marca de detergente para a roupa.

Mas o homem que não gostava de poesia, ao contrário de todos os outros, é um homem feliz.

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