(...) Do outro lado da morte estavas.
E eu não te sentia.
Passou-se tudo tão longe
Que eu não sei se passou ou se está a passar
Tenho estado a ver-te e
Creio que voltarei amanhã.
Uma manhã de ontem e não de hoje
Tu estás nela. Eu não sei onde estou.
Garcia Lorca, 5 de Junho 1898
Bati-te ontem. Perdoa-me.
Peço-te perdão com o descaramento do homem que mais te ama no mundo.
E amo-te como nunca amei ninguém: não sou perfeito e tu és um alvo fácil.
Já percebi que se te despir antes dói-te mais e isso deixa-me horrivelmente feliz.
Sou um monstro e assumo-me.
Vejo-te medo no olhar, vejo-te dor e vejo-te bela e submissa, na mansidão dum cordeiro de Páscoa.
Não sei se te disse ontem mas ficas mais linda quando choras despida na cama, e o sangue e o negro dos ossos ficam-te melhor que a roupa com que os tapas no dia a-seguir.
Preferia que exibisses os olhos negros e não os escondesses atrás dos óculos escuros que usas.
E já te disse que estás a mais bonita das grávidas?
O sofrimento que te causo purifica-te.Purifica-me a mim também.
Um destes dias mato-te e vamos os três para o céu.
In, Memórias dum Pária vulgar
2 comentários:
ainda tens o mesmo cheiro?
Não és a mesma. És outra.
Conheço-te pelo cheiro dos cabelos.
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