segunda-feira, novembro 29, 2004

Nota da autora





Como marcado iria decorrer no espaço da Voz do Operário uma peça de Teatro " A última estória de Werther".


Infelizmente, por negligência e irresponsabilidade dos que assumem posições naquela instituição a exibição da peça coincidiu com um jantar do IPO- que pelo uso de som inviabilizou a peça.

Toda a equipe de promoção, autora e actores lamentam o sucedido e agradecem o carinho e a disponibilidade de todos.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Parabéns

- Parabéns a você

Fazes 20 anos mas não vamos poder celebrá-los, não vamos poder jantar, não vais poder apresentar-me à Joanne porque já a conheço, porque nos conhecemos as duas numa viagem às Caldas, porque nos sentámos numa mesa de café para falar de ti,
de ti morto.

Cantar-te

- nesta data querida
muitas felicidades, muitos anos de morte


soa fúnebre porque, infelizmente, morreste.
Tornei-me uma crente em religiosidade por necessidade: preciso acreditar que há O outro lado, e dizem que as pessoas desse lado nos podem visitar quando sonhamos.

Pode ser uma treta imensa, pode ser uma verdade inquestionável.
Agarro-me a ela como verdade inquestionável: chamam-lhe intuição.

Peço todos os dias, que entres nos meus sonhos diários: que em vez de idiotices, possa sentar-me contigo numa relva em dia de sol, por a cabeça na tua barriga e perguntar-te como são as coisas desse lado: esse lado estranho onde nós não podemos entrar.

E relembro-te um racional-céptico, e ganho a certeza que esta conversa tomaria outros contornos contigo.

Cantar-te parabéns hoje só o imagino de forma impossível: pessoas de preto a remover uma campa, a olhar para um buraco fundo com um caixão de madeira envernizada, restos de flores no cimo, batendo palmas num cântico de parabéns

- hoje é dia de festa

e em choro compulsivo
em choro compulsivo porque morreste.

- Cantam as nossas almas

Penso em ti todos os dias para não me esquecer.
Tens os maiores pontos negros nas costas que alguma vez tirei: tens uma forma invulgar de resolver problemas com objectividade.

A memória um dia perde-se e há traços teus que não me posso dar ao luxo de deixar esquecer: não me deixaste muito mais.

E não haverá um dia que não lamente tudo.

- Para o menino Paulo, muitos anos (...)muitos anos de vida.


Afinal é sexta. Pede para ir.

terça-feira, novembro 23, 2004

you´re my kind of man

Dá-me dados verificáveis que me permitam acreditar que tu não fazes parte da raça de homens que traí, que mente, que recorre à hipocrisia.
Dados verificáveis que me permitam ter a certeza que posso começar a procurar móveis contigo,
mesa da sala, cama, quarto, móveis de cozinha
que posso ir às compras contigo, que tu vais sempre ser paciente, que não vais entrombar, que posso acreditar que daqui a largos anos a minha dentadura falsa pode cair na sopa que tu não irás rir:
antes, apanhá-la-às e colocar-ma-às na boca novamente para eu ficar bonita e poder rir-me sem constrangimentos sociais.

Que posso engordar 20 kilos que tu vais continuar a dizer que achas que peso 50
- que sou levezinha tipo pena, que continuo linda_de_morrer.
Que o meu corpo pode ser estriado pelo peso de gravidezes sucessivas e imparáveis
- vamos ser tipo coelhinhos?
que posso ter vários ataques de histerismo e que tu vais sempre saber resolvê-los.

E eu vou ser sempre a cinderela e vão sempre existir abóboras na cozinha.

Se assim não for passas à categoria de cão.

Há um cão em cada homem. É uma verdade matemática.
Espero que continues a esconder a tua genética canina como o vens fazendo: talvez assim eu própria a esqueça, e te assuma como perfeito.
Tenho uma dificuldade estúpida em acreditar em individuos do sexo masculino
- vulgo homens
mas também adquiri, por uma data de circunstancias infelizes, a incapacidade estúpida de acreditar em individuos do sexo feminino
- vulgo mulheres.

Fermentei a ideia de que não existe uma fraternidade de femêas como sempre quis acreditar: que a maioria das mulheres são más, invejosas, preconceituosas, mal amadas e que fazem tudo por tudo para prejudicar a irmã femêa melhor sucedida, mais feliz, ou a que traz consigo o melhor conjunto de roupa interior
- vulgo cabras_cadelas_nojentas_mal_amadas:
a raça a aniquilar, sisters.
Go sisters, go
.

Anima-me o facto de saber que esta grande maioria é facilmente controlada por uma minoria de femêas inteligentes, conscientes do ponto de vista emocional, independentes, amadas, e sexualmente activas.

E tu, és o último macho latino sensível à face da terra.

Nota descritiva: na maioria das vezes, este tipo de cadelas referenciado tende a simular doçura, amizade.
É um tipo de cadela de estatura média, comestível do ponto de vista masculino mas terrivelmente insegura, insípida nos afectos, muitissímo mal amada – tanto dentro da própria familia como fora dela.
É pouco criativa, possessiva, complexada, e odeia espelhos de cabeleireiro.
Normalmente assume-se sem preconceitos sexuais

(muitas vezes dizem-se lésbicas mas isso verifica-se impossível uma vez que nenhuma mulher inteligente se ligaria sexualmente a uma criatura deste tipo)
e muitas destas cadelas tem frequência universitária..


Todos os textos deste blog são pura ficção.Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.



segunda-feira, novembro 15, 2004

A lady will Walk....but never run

Não haverá mais nada a dizer: temos contas feitas.
Já não existimos juntos, já não somos aquilo que sempre fomos, aquilo que todos os casais anormais gostariam de se ter tornado.
Acabou e é oficial: não há XXXIII parte nisto.
Tens toda a razão,
- fomos longe demais
mas ir longe de mais, em questões deste tipo, nunca é ir longe o suficiente.

Olhar para tudo e deixar tudo lá atrás.
Na necessidade, voltar às memórias e achar-nos juntos a dormir na minha cama, despidos no chão da casa de banho completamente ensopados, na carpete da sala, no chão do quarto cheio de velas, em cima da arca frigorifica mais à mão, no banco da frente dum carro cinza.

- Se sobreviveres às 48 horas seguintes, estás livre.
Passá-mo-las. Ambos.
Eu sobrevivi, mas não sei porquê, ainda me doi.

A vaca loira.
Não me esqueci dela. Prometi o que não posso cumprir.
- Vou ter de sangrá-la mamã, vou ter de sangrá-la, desculpa-me
Ela tem fugido, esconde-se de mim em pastos onde acredita ter algum tipo de protecção
mas está enganadinha: o planozinho é perfeito.

Gosto da ideia de a manter no engano: a vingança é um prato que faz os dentes doer de tão gelado que é.

Odeio-a porque foi também ela que nos matou.
Essa vaca loira nojenta que transpira rancores e amarguras: a quem sai inveja líquida dos olhos, a que larga vários litros de suco vaginal de raiva pelas ruas da cidade, a que em vez de leite, nas tetas, transporta um veneno letal: matará as crias quando lhes der de comer.
Nunca imaginará o tamanho do estrago que fez

[vou culpá-la por isto até morrer]

e nunca ninguém o puderá remediar.


A vaca-cadela deu-nos este golpe de misericórdia doloroso: ela ainda não sabe mas há, de facto, uma faca de cozinha á espera dela.
A população feminina agradecer-me-à.

It´s over.Hands up.

Ter encontros marcados com pessoas é fácil: amá-las de verdade, encontrar-mo-nos nelas, é muito fodido
- fodidissímo
e raro,
-rarissímo
Encontros muitos. Paixões sérias e resistentes ao tempo: duas apenas.

Plagiar Eça para vos dizer agora, leitores pacientes, que fumo um pensativo cigarro
-porque sim, os cigarros tem essa capacidade estranha de se tornarem o raciocinio efectivo de quem os fuma,
e que penso em compasso certeiro com um relógio de sala onde mora um cuco que mostra as curvas de hora em hora.

Penso na estação do comboio de ontem e acho foi um erro não ter aproveitado a ocasião e me ter mandado para a linha.

Os sapiens-sapiens, essa raça magnífica de animais de duas patas pensa assim: odeiam o sofrimento e o estranho sabor que o vazio faz cair nos lábios.

Quanto à vaca: ela pode fugir, mas não se pode esconder :)


segunda-feira, novembro 08, 2004

Static Moans....{It´s getting better, trust me}

Serves-me bocados de lábios quentes de pessoas que não conheço pela sobremesa, tens pedaços de carne de homem a cozer no tacho e fizeste-o a contar comigo.

Eu gosto de chupar os olhos , tu gostas mais das orelhas, sempre nos completámos assim: por partes.

Vou-me sentar, vamos comer e tu depois pões a televisão mais alto que eu quero ouvir as noticias.


És um querido.