quinta-feira, janeiro 06, 2005

Keep your hands where I can see them

Já não me lembro.
Já não me lembro de como aprendi a chorar, a escrever, a atar os tennis.
Já não me lembro do baloiço da casa da minha avó, da àrvore que lhe entrava pela sala a dentro, de como ela dizia
- menina.

Não me lembro mais do dia em que ela adormeceu para sempre naquele dia de Natal
- a avó está a dormir mamã

e muito menos me lembro de as ter ouvido falar ás duas, meses depois, anos depois, numa campa de mármore branco em Benfica
- três fêmeas com o mesmo sangue nas veias

a minha mãe a limpar rebordos do mármore frio
a minha avó debaixo dele
eu a mudar a água das flores

-mas eles falam, mamã?

Já não me lembro delas naquela cumplicidade estranha
- de vida e de morte
comigo no meio
-diz-lhe que tenho saudades dela, mamã

Não em lembro mais do dia em que ele morreu
- está lá?

não me lembro mais de cair fulminada na cama e a minha mãe me suster a dor

- podes vir aqui ter comigo ao instituto de medicina legal?sabes onde fica?
Houve um engano e ninguém sabe.



Já não me lembro de mim antes disto, não me lembro de viver os últimos três dias, não em lembro de sentir amizade mais profunda e sincera pelas linhas de metro da estação de Entrecampos
- salta, salta

Não me lembro de mim, sentada no teu colo, a ouvir rouxinois, não em lembro mais de ti na minha cama, não me lembro mais do dia em que nos conhecemos
- chama a policia que um homem está ferido no comboio


Não me lembro mais de me rir contigo, de abrir-te portas, de te ver a mastigar.
Não me lembro de ferida maior, que precise de mais compressas, Betadine
que precise de maior número de agulhas, anestesia, pessoal capacitado e batas
do que esta de hoje.

Não me lembro mais de gritos e castrações
- tão parecido com o daddy

nem me lembro mais de um passeio, de estar sentada nele a chorar
a chorar por mim
por ti
e por um presente que se fez passado no meio de gente que nos olha com a curiosidade circense.

- estou aqui mamã, podes vir-me buscar?

Não em lembro de poço mais fundo, de tantas mãos, de tanta luz lá em cima: mão em lembro de esolha mais forte e mais letal do que aquela que vem no a-seguir,
num
a-seguir
demasiado próximo.




(...)Dá-me um beijo e provoca um Tsunami que faça o mar chegar-me á ponta dos pés para podermos chapinhar juntos e ser felizes no meio de conchas e carangueijos.

1 comentário:

Anónimo disse...

NAO ME LEMBRO MAIS DE TI A RIR, NAO ME LEMBRO MAIS DE TI A SAIR DE CARROS EM ANDAMENTO PARA SENTIRES O AR NA FRONHA, NAO EM LEMBRO MAIS DE TI BEBEDA A DIZER A ESTRANHOS QUE TEM DE SER FELIZES.
SABES TU LEMBRAR-ME PORQUÊ?

ES BONITA DEMAIS(DE DENTRO PARA FORA E DE FORA PARA DENTRO) PARA FICARES ASSIM!!!!!!!!!!!!!!!

PS.- ESPERO QUE CONTAR OS TEUS PODRES AQUI VALHA PARA ALGUMA COISA, MÚLHERI

:)
SANDRA*