quinta-feira, abril 06, 2006

Amo-te tudo


- Olha assim para mim e diz que me amas como fazes quando me queres despir

Sirvo-te uma sopa vermelha de sangue, uma sopa de bocados de carne da minha barriga que agora trago tapada em tecido para que não a saibas assim, para que não me descubras arquitecta de malvadez
- não quero que vás embora mas não aprendi a dizê-lo

tens malas feitas e tomas a tua última refeição nesta casa como se nada fosse, como se eu nada mais te fosse
- olha assim para mim e diz que me amas quando

a sopa quente fervilha no teu prato e eu olho em angústia a forma bruta como levas a colher aos lábios: bocados de mim a entrar em ti como eu sempre quis, como eu sempre desejei
- porque é que nunca me deste um filho ?

e eu
- um filho
a crescer-me na barriga arrancada

olho-te de soslaio enquanto
- sempre quis um filho teu

enquanto me como, enquanto me como também a mim na minha última sopa contigo
quente

uma sopa quente de carne minha : tenho mais pedaços de carne minha a ferver ao lume, fiz mais a contar com a tua fome de mim.

Eu gosto mais do suco da sopa, tu gostas mais da carne
- sempre nos completámos assim por partes, vizinha


Depois de ires vou-me sentar a chorar para ver televisão. Vou sentir daqui os teus passos até às malas, vou saber daqui o momento em que fechaste a porta e te foste de mim.
Aqui me saberei para sempre.

"To fear love is to fear life, and those who fear life are already three parts dead."


3 comentários:

Anónimo disse...

louca louca louca :=P

Anónimo disse...

Estás proibida!!!!!!!! de voltar a escrever lá.
Ondé ke fica a lealdade aos teus leitores?????????? :(

T.

Anónimo disse...

Queremos mais!

J. k.

(forever woman, forever girl :))