quarta-feira, junho 02, 2004

Love Letter to António Lobo Antunes

Faz todo o sentido.
Vê-lo, abraça-lo e dizer-lhe baixinho que os seus livros são qualquer coisa de pessoal e intransmissível: tal como passes sociais na vida dos utilizadores de transportes públicos.

Vê-lo assinar livros: imaginá-lo a escrever numa mesma posição, sentado, com semblante semelhante: com a mesma ternura estranha que transpira dos olhos - e não sabe, nem desconfia.

Parece-me um homem feliz que passou desgostos, como um menino que come favas porque a mãe manda.


Bebeu àgua ao pé de mim
escreveu parou de escrever olhou as pessoas
voltou às assinaturas
olhou para mim escreveu outro livro apresentou-me à sua dignissíma tradutora alemã,

- mantenho-a desde o ínicio, disse-me.
rimo-nos em cumplicidade por causa da frase idiota que escrevi;
Lobinho no seu very best.
Riu-se. Eu ri-me. Criámos empatia.
Continuei à espera que terminasse as assinaturas.
Deu-me o último livro. Agradeci-lhe, tremi e pedi-lhe um abraço.
- aqui no meio desta gente toda?
Claro, respondi.Claro.

Invejei a sua tradutora terrivelmente. Sou uma idiota.

Não pergunte porquê, mas tenho-lhe uma mistura de dedicação e afecto: nada de patológico, descanse. É uma paixão morna, irreal, educada e controlada no plano da fisicidade.
Gosto de si, só isso.
E espero que continue a fazer-me companhia com as suas estórias quando o sono não vem.









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