Ela olhou para ti com olhos de amar, dormiste com ela, és dela e eu não estou aqui a fazer nada.
Aqui estou eu
- linda de morrer, as always,
à tua espera no meu café favorito, perto do Tejo, perto de quadros, dentro do meu mundo.
E faz-se estória.
Mas aqui agora
- graças à transmutação possível do imaginário ficcionado,
sentada numa estação, a rir-me contigo, a dizer-te que já não te amo e que outros deram lugar ao que tivemos quando ainda não é bem assim: a ver-te diferente, a sentir-te diferente, e a ver uma outra mulher entrar aqui agora, num rompante absurdo, numa estória que era minha(?)uma mulher estranha de camisa estranha, um azul estúpido que me irrita e umas calças pretas.
Acho-a demasiado básica para ser ela, a mulher de quem me falaste à pouco, mas é.
Eu nunca percebi mas tu também és básico.
A natureza faz o curso das coisas ser perfeito, os homens teimam em estragá-lo
- a minha mãe tem sempre razão.
Vocês são perfeitos e alguém está aqui a mais.
Não percebo.
Não percebo o que é que viste naquilo, não percebo como é que ganhaste magia ali, com ela, uma rapariga vulgar, comum, mas abano-me e dou-me estalos e logo percebo que o que não bate aqui sou eu: o ser lindo e perfeito.
Esta modéstia um dia vai ser a razão de um homicídio, bem sei, mas volto ao banco, aquelas três personagens ali sentadas onde comboios passam, e vejo melhor aquela do cabelo preto, óculos pretos e da camisola azul-estúpida.
Ganho-lhe pena.
Ali no banco são três: duas raparigas um rapaz.
A referenciada, a do cabelo preto, dos óculos pretos, da camisola azul estúpida, e uma outra. A menina do chinelinho lindo_de_morrer, dos canudozinhos, dos olhinhos grandes, do oculozinho castanho- D&G , essa mesmo, essa menina, a da mini-saia, a que tem ao lado dela um sapo. Tu.
Tu que já não és quem foste – as personagens só existem em dois sitios mágicos: nos livros ou nas cabeças das pessoas.
Tu és um desenho e aquela segunda menina da estória foi até a esta estação de comboio para tirar teimas: príncipe ou sapo?
Sapo. Sem dúvida sapo. Verde, viscoso.
A menina da unha pintada, a menina do cabelinho curly, a essa, dou-lhe protecção, faço-a aperceber-se rapidamente que aquela estória não pode ser a dela, que ela não é dali, que não foi construída para aquilo.
Mando-a despedir-se de ambos de forma cortês e educada: ela despede-se do sapo verde e deseja-lhe boa viajem até ao pântano e dirige-se à menina do azul irritante e monitorizo-a para ali não voltar, para apagar coisas, fazer deletes certos. Evadir-se.
O sapo fica com a rã.
A menina dorme à espera do charming prince.
It´s a different world and she is a different girl.
3 comentários:
Porque o deixaste escapar?
MAis um grande texto. Simplesmente adoro o que escreves. Obrigado. Keep on shining **
Tens medo.
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